Olá, ninguém!
Não, calma, eu não estou falando com você. Porque você existe e é a coisa mais maravilhosa que tenha decidido ler esta newsletter. Muito obrigado, de coração. Essa é apenas a introdução a algo que eu queria falar hoje, algo que me acompanha faz uns 10 anos, senão mais!
Eu comecei a escrever como forma de me expressar há muito tempo, lá pelos idos de 1931. Pelo menos, é o que parece na minha cabeça. E lá em 1931, como todo aspirante a autor, eu tinha o sonho definitivo.
O sonho definitivo é a imagem de pilhas de livros com meu nome em livrarias. Filas imensas nas sessões de autógrafo. Reclamar que não me consultaram para cortar um personagem terciário na adaptação para o cinema.
Engraçado como, mesmo com todos os sinais da realidade de que isso não vai acontecer, continuo sonhando.
Mas o mais difícil nem é isso. É entender que o mais provável é o contrário: que ninguém vai ler o que eu escrevi. Do sonho de multidões, vejo zeros. Zero leituras, zero curtidas, zero visualizações.
Isso sempre foi o padrão, né? Era até pior no passado. O único jeito de alguém ler um livro meu seria encontrando uma editora, importunando amigos e familiares ou vendendo na rua por conta própria.
O problema, no entanto, está aí: a ilusão da oportunidade. Na internet, temos acesso ao mundo inteiro, o que significa que o mundo inteiro tem acesso ao que eu escrevo. E se o mundo inteiro pode ler, o fato de ninguém o fazer é culpa minha.
Não é. Eu sei que não é. As redes sociais são uma falsa sensação de campo nivelado, em que todos têm a ilusão de estarem expostos ao máximo. Na verdade, é tanta coisa e tanta gente ao mesmo tempo, que a maioria se perde no barulho. Quem se destaca, muitas vezes, é por ter dinheiro ou influência para tal. Um ou outro caso de sucesso viraliza do nada, mas contar com isso é como contar com a loteria. Não há fórmula, por mais que tentem te vender uma.
No fim das contas, sobra pouco, quase nada pros betinhas.
Existem coisas que ajudam. A principal delas é fomentar e alimentar seu público e tentar crescer organicamente. Esta newsletter é um desses casos, não vou ser hipócrita aqui. Infelizmente, exige muita dedicação para pessoas que precisam trabalhar, estudar, viver. Se pelo menos fosse um sucesso garantido, dava até para fazer sacrifícios.
O que sobra para a maioria dos aspirantes, incluindo eu, é a história mais comum da internet: poucas visualizações, pouco dinheiro, frustração de sobra.
Neste ponto, você pergunta: “É isso mesmo? O texto dele vai ser só um chora-chora porque você tem pouco público?“
É aí que você se engana! Nesse cenário melancólico, uma variável continua persistente como uma constante: mesmo sabendo disso tudo, eu continuo escrevendo. Apesar de ainda existir, o sonho continua ali no fundinho, descansando, esperando uma brecha para voltar pro consciente. Só que existe algo ainda mais forte movendo meus dedos no teclado.
Escrever se tornou um hábito. A minha forma prioritária de me expressar. E se eu continuo escrevendo, é porque não consigo evitar de fazê-lo. Sem estas palavras, não existe a versão de mim que considero a melhor versão.
Portanto, pode ser zero visualizações, nenhum like, nada de cópias vendidas no mês. Eu me frustro, eu desisto, eu me afasto. Dias depois, no máximo semanas, lá estou eu de novo com uma barra vertical piscando na tela.
[Literatura]
Esta semana eu não tenho muito o que falar sobre assuntos variados. Estou escrevendo este texto durante o feriado, tomando um café, um vento e esperando a hora de preparar o almoço.
Porém, para não ficar muito vazia a newsletter, vou só comentar que terminei uma nova leitura: Casas Estranhas, de Uketsu. É um livro de mistério sobre um jornalista que se depara com uma estranha planta de uma casa, com elementos que não fazem muito sentido arquitetonicamente.
É uma leitura bem divertida e com um bom ritmo, sem que a história se estenda mais do que precisa. Só não sei se essa brevidade faz bem para o próprio mistério que ela quer contar.
O autor e um amigo vão, aos poucos, desvendando o que significam os elementos estranhos que as casas apresentam, mas os saltos lógicos são sempre longos demais para sua crença acompanhar. De um simples espaço fechado no meio do primeiro andar, surge uma teoria longa e elaborada sobre para o que ele servia, e tudo se desenrola com muita naturalidade para algo que seria, basicamente, chutes.
De qualquer forma, foi gostoso ler e acompanhar as conjecturas se desenrolando. Tanto que já estou botando na fila o Imagens Estranhas, livro anterior do mesmo autor e na mesma pegada, que dizem ser melhor. Veremos.

[Finalmentes]
Por enquanto, é isso! Muito obrigado por acompanhar a newsletter e, se quiser, siga e me acompanhe nas redes, além de dar uma chance pros meus livros!
Até a próxima!
Guilherme L. A. Pimenta

