Ei! Oi! Aqui!
E aí, como vão indo os seus dias? Eu sei que a ideia aqui é falar sobre mim, mas eu sempre preferi perguntar a responder. Mas isso é conversa pra outra hora.
O que me levou ao tema da newsletter de hoje foi uma memória resgatada das profundas da minha mente. Esses dias, eu tava pensando sobre escrever um post lá no meu blog glapimenta.com.br sobre o consumo produtivo de arte. Fazer listas de completados, marcar médias de leitura, botar metas de assistidos, acelerar o áudio book para ouvir em menos tempo e coisas assim.
Eu acabei desistindo porque não sei o que posso adicionar à discussão. É um assunto tão batido, já… É a nossa realidade atual, esmiuçada como todo fenômeno sociocultural o é enquanto acontece — para depois ser interpretado de maneiras completamente diferentes em retrospecto.
Desisti do post, mas pensando sobre ele, lembrei de duas palavrinhas que não me vinham à mente fazia muito tempo: leitura dinâmica.
Pois é, pelo jeito a moda de querer consumir conteúdo rápido não é nova. Na década de 90, existiam até aulas para aprender a ler apenas passando os olhos no texto. Assim, lê-se mais rápido e pode-se ler mais coisas.
Hoje em dia, essa necessidade (forçada ou criada) cresceu exponencialmente dentro das redes sociais. De um lado, temos influencers e produtores de conteúdo que precisam aumentar a frequência de postagens para agradar o algoritmo. De outro, temos os usuários finais que, vendo pessoas que gostam falando de tantos assuntos diferentes, querem absorver todos ao mesmo tempo para não perder as discussões.
Mas o que se perde em troca é muito pior. Como nada existe no vácuo e tudo é criado no desenrolar de uma linha infinita, um dos processos para a leitura dinâmica inventado lá atrás explica muito bem o problema com o consumo de conteúdo atual.
A tática central para ler rapidamente uma página de texto (lembre-se que não é uma fórmula universal) é eliminar a vocalização mental das palavras.
Sabe quando a gente lê em silêncio, mas pronuncia as palavras mentalmente? A ideia pular esse passo e fixar a atenção nas palavras que seriam “âncoras“ em cada linha, sem completar na cabeça a frase inteira. Assim, absorve-se o conteúdo sem, conscientemente, reconhecer cada parte do todo.
E não é que essa estrutura tem exatamente a mesma função do vídeo em 2x? É uma técnica exclusivamente para absorção de conteúdo, seja lá o que isso signifique. É ver por ver, ler por ler, sem nenhuma conexão mais profunda com o material.
Afinal, absorver não é o suficiente. É preciso também digerir.
Digo mais: acelerar a experiência do conteúdo é uma ação ligada ao pretérito do futuro. Quem se acostuma com esse tipo de consumo não liga tanto para o desfrute de assistir aquela série do momento.
É muito mais sobre, no futuro, pode dizer que, no passado, assistiu. A recompensa nunca está no presente.
E, ei, eu não vou julgar ninguém aqui. Eu caio na mesma armadilha midiática o tempo todo. Mas é interessante pensar que a tendência é mais antiga do que a gente imagina. Ela só aumentou tanto porque a quantidade de conteúdo disponível aumentou igual.
[Literatura]
Umas semanas atrás eu FINALMENTE li Frankenstein: Ou O Prometeu Moderno, de Mary Shelley. E devo confessar que foi um choque.
O problema aqui sou inteiramente eu. Por nunca ter ido muito atrás, a minha visão do monstro de Frankenstein era a mais preguiçosa e mastigada possível que me veio por osmose. Um cientista despirocado dá vida a um monstro que depois é perseguido com tochas e ancinhos pelos camponeses.
Pensava que o fato do livro ser um clássico era simplesmente pelo ineditismo de temas e pelo momento, quando a biologia e a física eram esticadas a limites que antes pareciam impossíveis. Um terror de ficção científica famoso nessa época seria imediatamente um clássico, certo?
Não. Nada certo.
Frankenstein não é um clássico por sorte, agora eu posso dizer com propriedade. É um livro incrível, com elegância e sensibilidade nas discussões que engrandecem sua trama atemporal. O conflito de Victor, entre ego, aspiração e suas consequências é algo que passamos até hoje em nossas vidas (sem, claro, a parte toda de reviver mortos). Se você não chegou a ler ainda, mesmo com o filme do Del Toro aí, vale muito a pena ir atrás.

Gosto muito dessa capa
[Música]
Na seçãozinha de música da semana, vim só dar uma recomendação rápida: o novo álbum da Lily Allen, West End Girl, saiu recentemente e está incrível. Ele “deu o que falar“ pelas letras sobre a traição e separação de seu ex-marido.
Só que ele é muito mais do que isso! É um álbum muito inspirado, tanto nas letras quanto na produção. É uma montanha-russa de emoções, que vai da raiva à tristeza, passando por conformismo, vazio e autodescoberta. Algo que todo mundo passa nesse tipo de situação.
Minha música preferida até o momento deixa esse sentimento bem claro. Just Enough fala sobre a frustração de perceber o desequilíbrio em um relacionamento, quando o que se entrega é muito mais do que se recebe. Fica a dica:
[Finalmentes]
Por enquanto, é isso! Muito obrigado por acompanhar a newsletter e, se quiser, siga e me acompanhe nas redes, além de dar uma chance pros meus livros!
Até a próxima!
Guilherme L. A. Pimenta

